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O que é Arte Marcial?

Artes marciais são disciplinas físicas e mentais codificadas em diferentes graus, que tem como objetivo um alto desenvolvimento de seus praticantes para que possam defender-se ou submeter o adversário mediante diversas técnicas. São sistemas para treinamento de combate, geralmente sem o uso de armas de fogo ou de outros dispositivos modernos. Atualmente, as artes marciais, além de praticadas enquanto treinamento militar, policial e de defesa pessoal, algumas são também praticadas como "Desporto de combate" ou "Esporte de combate" (Boxe, MMA, Muay Thai). Existem diversos estilos, sistemas e escolas de artes marciais. O que diferencia as artes marciais da mera violência física (briga de rua) é a organização de suas técnicas num sistema coerente de combate, desenvolvimento físico, mental e espiritual.

O que é Kung Fu?

Na China, o termo "Kung Fu" significa "trabalho duro" ou "trabalho árduo" e é empregado em qualquer tipo de atividade ou ofício. Ou seja, investimento de tempo, esforço e energia. Os chineses dizem que quando desempenham bem qualquer função, aplicaram "Kung Fu", sendo assim, pode-se aplicar o Kung Fu na gastronomia, na engenharia, na medicina na escrita e em todas as áreas do desenvolvimento humano, inclusive na marcial e espiritual.

No oriente, as Artes Marciais Chinesas eram chamadas de Wu-Shu. Wu = Guerra, Shu = Arte. Depois, o governo chinês adotou o nome Kuo-Shu, ou Arte Nacional. Com o passar do tempo, as Artes Marciais Chinesas vieram para o ocidente, onde passaram a ser denominadas de Kung Fu.

O que é Wing Chun Kung Fu?

O Wing Chun é uma arte marcial chinesa, um estilo de Kung Fu, por isso diz-se "Wing Chun Kung Fu".

Origem do Wing Chun Kung Fu

O Berço do Kung Fu
 
Na China, o berço do verdadeiro Kung Fu foi o templo Shaolin, embora haja registros da existência de Artes de Guerra Chinesas alguns milênios antes de Cristo.

O primeiro Templo Shaolin surgiu entre os anos 398 e 534 d.C. (Dinastia Wei), a mando do Imperador Shiao Wen. Shaolin significa "Jovem Floresta" porque os monges plantavam diversas árvores frutíferas em volta do templo e se alimentavam dessas frutas. Essas árvores, com o passar dos anos, se convertiam num pequeno bosque. Haviam 5 templos Shaolin situados em: Fukien, Wutang, Honan, Kwantung e O-Mei-Shan.

​​​A história de Bodhidharma

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Na Índia, Bodhidharma (também conhecido por Daruma Taishi, Ta Mo ou Bodai Daruma) foi um príncipe indiano, filho do Rei Sughanda. Como príncipe, Bodhidharma pertencia a uma casta guerreira), foi aluno do grande mestre Prajnatara, com o qual aprendeu Vajramushti (arte marcial dos guerreiros indianos) e também os preceitos do Budismo. Quando Prajnatara morreu (por volta de 520 d.C.), Bodhidharma, deu prosseguimento à missão de seu mestre, viajou para vários países do oriente reconduzindo a filosofia budista que até então estava desviada dos verdadeiros a dogmas de Buda. Quando Bodhidharma foi à China a convite do Imperador Liang Wu Ti, notou que este não seguia os verdadeiros conceitos budistas, tratando o povo com muita severidade e impaciência. Não compreendendo os ensinamentos de Bodhidharma, e considerando-o como um herege, o Imperador Liang Wu Ti ordenou que Bodhidharma fosse capturado e trazido até sua presença mas Bodhidharma, prevendo a fúria do Imperador, já havia fugido para o reinado de Wei.

Chegando a Wei, Bodhidharma foi recebido pelos monges e hospedado no Templo da montanha Soong Chan. Segundo a lenda, neste templo, Bodhidharma sentou-se de frente para uma parede e meditou durante nove anos ininterruptos.


Durante sua meditação, Bodhidharma criou o Budismo Ch’an (ou Zen japonês) que enfatiza a meditação e ensinou aos monges do Templo. Como os monges tinham uma rotina de meditação muito intensa, muitas vezes eles não aguentavam e desmaiavam de cansaço. Para resolver este problema, Bodhidharma passou a ensinar o Vajramushti a esses monges superiores para torná-los mais fortes e resistentes.
 
Com o tempo alguns monges foram reunindo os conhecimentos marciais do Vajramushti e aperfeiçoando-os, dando origem a quase 172 técnicas que foram divididas em cinco estilos diferentes e a cada estilo foi atribuído um animal (tigre, leopardo, garça, dragão e serpente) formando assim, a base do atual sistema Shaolin. As técnicas do tigre desenvolviam a força, as técnicas do leopardo desenvolviam a velocidade, as técnicas da garça treinavam os tendões e a plasticidade dos movimentos, as técnicas do dragão desenvolviam o espírito e as técnicas da serpente desenvolviam a energia interior (chi).


A invasão dos Manchus e a Dinastia Ching

O Wing Chun foi desenvolvido em torno de 400 anos atrás, em um momento de agitação civil.

Na dinastia Ching, que ocorreu entre 1644-1911, os Manchus governaram a China, onde 10% da população (Manchus) governou mais de 90% da população (Hons). Para manter o controle sobre os Hons, os Manchus governaram com mão de ferro.

Esta dinastia começou com a tomada de Pequim por nômades tártaros da Manchúria. No século 19, com mais de 400 milhões de habitantes, o país passou a sofrer com a venda de ópio dos ingleses a seus habitantes, o que o levou à Guerra do Ópio contra a Inglaterra. Em 1911, uma revolta popular derrubou o último Ching, o imperador-menino Puyi, iniciando o período republicano.

Agressão e opressão eram os pilares da dinastia Manchu e os Hons foram proibidos de usar armas ou treinamento em artes marciais. Assim, a fim de derrubar seus opressores, a atividade rebelde foi instigada por mestres das artes marciais na clandestinidade.

Atividades rebeldes desenvolveram-se rapidamente nos mosteiros budistas, que foram em grande parte deixados em paz pelos Manchus por respeito a cultura budista e religião.

Estes santuários Shaolin eram lugares ideais para renegados esconderem-se, eles simplesmente raspavam a cabeça e vestiam as vestes monásticas dos discípulos do templo. Durante o dia, os rebeldes ganhavam o seu sustento, fazendo tarefas ao redor do templo. À noite, eles se reuniam para formular seus planos para derrubar os Manchus.

Há alguns que sustentam que os santuários Shaolin não possuíam filiação partidária. Eles também enfatizam que os ensinamentos budistas destes mosteiros teriam impedido o seu apoio aos rebeldes e as sociedades secretas. Tal posição não tem embasamento em fatos históricos. Os líderes religiosos ao longo da história, tanto a ocidental, assim como o mundo oriental, influenciaram a política e governo desde o início dos tempos.

No caso da China, precedente para tal comportamento, por parte dos mosteiros, já havia acontecido 400 anos antes. Conforme verificado pelo Museu do Wing Chun, Jyu Yuhn Jeung, o homem que liderou a revolta chinesa contra os mongois e estabeleceu a Dinastia Ming, foi ele próprio um monge budista.


O nascimento do sistema Wing Chun

No final de 1600, os Manchus ficaram preocupados com as atividades rebeldes dos templos Shaolin e seus desenvolvimentos contínuos das artes marciais.

Portanto, eles mandaram espiões (muitos deles líderes militares Manchus) para se infiltrarem entre os rebeldes e aprenderem os sistemas tradicionais de lutas, como ensinado secretamente nos templos. Os mestres rebeldes do kung fu, percebendo isso, clandestinamente desenvolveram um novo sistema que tinha duas finalidades:

1) Em primeiro lugar, tinha que ser aprendido rapidamente e de forma eficiente.

2) Em segundo lugar, tinha que ser devastadoramente eficaz contra os sistemas de combate já existentes, os quais os Manchus estavam aprendendo e ensinando a seus soldados. Assim nasceu o Wing Chun.


A Retaliação Manchu: A destruição do templo Shaolin

Com suas estratégias de espionagem comprometidas, os Manchus decidiram eliminar a ameaça da atividade rebelde simplesmente exterminando os monges Shaolin. Eventualmente, o templo Shaolin do sul foi queimado e destruído.

Extensa pesquisa realizada pelo Museu do Wing Chun aponta para uma geração de herdeiros após a queima do templo sul. Entre eles estava um senhor chamado Cheung Ng (conhecido como Tan Sau Ng em outros textos). Desta geração de herdeiros, Cheung Ng existiu comprovadamente. Ele criou a Associação Bela Flor (precursora da Ópera Vermelha e forneceu treinamento de Wing Chun às sociedades secretas).

Cheung Ng entrou na clandestinidade, desaparecendo dos olhos do público para escapar da perseguição da dinastia Ching (Manchus).

A lenda de Yim Wing Chun

O mito de Ng Mui foi criado para proteger as identidades dos criadores e perpetuadores do sistema Wing Chun, uma cortina de fumaça foi jogada na forma de estória - a estória de Ng Mui e Wing Chun.

A lenda: Foi dito que entre os sobreviventes dos massacres de Shaolin, havia uma monja budista chamada Ng Mui, que teria sido a única guardiã de uma arte marcial simplificada, altamente prática e eficaz desenvolvida dentro dos templos.

Por sua vez, Ng Mui disse ter passado seu conhecimento para sua discípula escolhida, uma jovem chamada Yim Wing Chun, para que ela pudesse se defender de assediador local. Como Yim Wing Chun ensinou o sistema para outros, tornou-se conhecido como Wing Chun. A história se espalhou e hoje muitas versões existem ao redor do mundo.

Três considerações a fazer sobre a estória de Ng Mui

 

1) Fora da lenda, não há nenhuma outra evidência de que Ng Mui foi uma grande mestra de kung fu ou fundadora de um sistema de kung fu. Não há registros, não há documentos históricos. Nada.

 

2) Na época teria sido proibido uma monja viver, muito menos treinar dentro de um ambiente monástico celibatário como os Siu Lam / Shaolin.

 

3) Talvez o mais importante, depois de escapar de uma situação de morte como revolucionária, não faz sentido que Ng Mui iria ensinar um sistema de combate de nível avançado para uma garota local com problemas pessoais e nenhuma conexão com a revolução.

 

Naquela época a dinastia Ching tinha inventado uma forma especial de punição para traidores e rebeldes. Depois de forçar a confessar seus crimes, o culpado era executado. Depois, funcionários Ching iriam caçar membros da família do culpado de até nove gerações e executá-los como traidores também. Portanto, ensinar a Yim Wing Chun artes marciais colocaria sua vida em risco.

 

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Arte secreta

 

Com relação a pessoa de Yim Wing Chun como uma lenda, é necessário considerar mais uma vez a importância das sociedades secretas rebeldes.

 

"Yim" pode ser traduzido como 'proibido' ou 'secreto'. O termo "Wing Chun" se refere a uma localização geográfica - onde os rebeldes talvez praticavam artes marciais e conduziam suas atividades subversivas.

 

O uso do termo Primavera simbolizava possivelmente o renascimento da Dinastia Ming e sempre se refere a uma dinastia restabelecida que dura para sempre.

 

Depois da destruição do Templo Shaolin do Sul, os sobreviventes revolucionários tiveram que espalhar a ideia de revolução (só depois da destruição de sua base). Assim, "Yim Wing Chun" era talvez um codinome, o que significava (proteger) a arte secreta do Wing Chun.

 

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Quais foram os guardiões reais do sistema Wing Chun?

 

Muitos (não só cinco lendários anciões) monges e líderes rebeldes escaparam dos massacres da Manchúria. O material histórico foi passado diretamente de professor para aluno. Assim, os anciões relataram [no mínimo] que dois monges Shaolin / rebeldes sobreviveram aos ataques do templo e foram capazes de manter o sistema Wing Chun vivo. Um deles era um monge, da 22ª geração, Grande Mestre Yat Chum Dai Si do templo Shaolin do Norte. O outro era um discípulo dele do Templo do Sul, chamado Cheung Ng. Fugitivo dos Manchus, Cheung Ng fundou a Kihng Fa Wui Gun (Sociedade Bela Flor), as raízes da Companhia de Ópera, a famosa Hung Suen (Barcos Vermelhos).

 

 

Companhia da Ópera

 

Historicamente, sabemos que a atividade rebelde floresceu na Companhia da Ópera dos Barcos Vermelhos. Os Juncos Vermelhos. A ópera tinha permissão do governo Manchu para ter atores talentosos de palco, praticavam kung fu e ginástica. Disfarce perfeito para formar as sociedades secretas para derrubar a dinastia Manchu. A trupe era o lugar ideal para esconder os rebeldes como artistas. Usavam trajes elaborados o que proporcionavam excelentes disfarces. Além disso, os artistas adotavam e eram conhecidos pelos seus 'nomes de palco', isso camuflava ainda mais suas identidades reais.

A preservação do sistema

 

Quando Cheung Ng fundou a Companhia da Ópera, ficou conhecido como Tan Sau Ng - não apenas um nome artístico, mas também uma homenagem irônica à sua implantação hábil do Wing Chun, o nome de uma técnica (tan sao). Um fato importante a notar é que os Manchus policiavam tudo e a todos com seus espiões, e as sociedades secretas não podiam falhar em suas atividades. Isto de certo modo purificou o conhecimento genuíno do kung fu, pois circulava apenas em uma rede interna dentro da sociedade. Assim, o conhecimento genuíno do kung fu foi passado somente por mestres que selecionavam discípulos de confiança, protegendo assim a pureza e a origem do sistema.

 

 

Mais peso histórico

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Uma hipótese que Cheung Ng era de fato o herdeiro da arte do Templo do Sul e a força condutora por trás de seu uso como um sistema completo de treinamento de combate para os rebeldes, certamente tem mais peso histórico do que a lenda de uma jovem. Ela representa uma explicação muito mais plausível das raízes do Wing Chun, considerando a integralidade da arte em termos de eficácia no combate total. A hipótese também está de acordo com o contexto histórico dos tempos que precederam as viagens da Ópera dos Juncos Vermelhos. Entretanto, como todo estudo histórico, uma hipótese pode dar um grande impulso para promover estudos mais aprofundados revelando ainda mais. Em suma, mais estudo bem fundamentado vai nos levar mais perto da realidade. Até aqui é um ponto de partida para uma investigação mais séria.

 

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Conclusão

 

Os mitos são muitas vezes criados para simplificar algo ou para disfarçar a verdadeira natureza de um assunto, para torná-lo mais palatável para a mente. Consequentemente, às vezes as pessoas querem acreditar nos mitos apesar das evidências científicas ou históricas. A ficção pode ser mais reconfortante do que a verdade. Um conto de fadas é mais fácil de entender do que um tratado. A lenda de Ng Mui e Yim Wing Chun é uma grande história. Mas, simplesmente, não é verdade.

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